Olho da Grota, Portunhos - 2010

Histórico das explorações do NEUA

(actualizado a 4 de Dezembro de 2010)
O Olho da Grota, localizado próximo da povoação de Portunhos, concelho de Cantanhede, funciona supostamente como uma das descargas do sistema aquífero Ançã-Cantanhede, situado no flanco SE do anticlinal de Cantanhede, estrutura com orientação NE-SW, e constituído por formações carbonatadas do Jurássico médio, com inclinação entre os 10 e 15 graus para SE, que tem na Nascente de Ançã a sua principal exsurgência.
O Olho da Grota, também conhecido por "Olho d'Água de Portunhos", é uma exsurgência perene, normalmente utilizada como captação de água para os campos agrícolas circundantes. Em anos de seca, é possível percorrer a seco cerca de 15 metros no seu interior.
Por volta de 1960, os serviços de urbanismo do Município de Cantanhede, impulsionados por Vasco Mendes de Sousa, iniciam uma primeira exploração do Olho da Grota através da tentativa de bombeamento e alargamento da nascente.
Dezembro de 1982: O NEUA faz a primeira tentativa de mergulho da nascente. João "Jota" Neves efectuou nesta cavidade o seu primeiro mergulho em gruta, tendo percorrido a zona inicial onde ocorreu uma tentativa de alargamento da galeria inicial, numa extensão de sensivelmente 10 metros.
Mergulhador: João "Jota" Neves
Mergulhador de apoio: Laura Neves
Apoio de terra: Manuel Soares
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Em Outubro de 2005, aproveitando um ano de seca, o NEUA voltou a esta cavidade e topografou a zona inicial a seco até ao fim do meandro. Este caracteriza-se por se desenvolver em conduta forçada com dimensões médias de 1 metro de largura por 3 de altura. O fim do meandro termina com um abrupto rebaixamento do tecto da galeria para uma altura de sensivelmente 1 metro, passando a secção da galeria a apresentar uma forma basicamente oval, local onde se encontrava a água. Foi ainda tentada uma pequena desobstrução, tendo sido removidos alguns blocos que se encontravam a descoberto devido à ausência de argila, sem que no entanto produzisse qualquer resultado significativo.
Participantes: Ana Sofia Reboleira, Davide Moreira; Manuel Freire; Marco Costa; Rita Lemos; Rui Andrade e Rui Pinheiro.
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Em 2010 o NEUA volta ao Olho da Grota.
Aproveitando a forte pluviosidade e o caudal existente foi tentado um mergulho exploratório. De referir que a progressão subaquática nesta nascente deve ser realizada com alguma circulação de água, uma vez que o chão está totalmente coberto por uma espessa camada de argila. Após a zona inicial do meandro, a galeria não tem mais de 1 metro de altura, pelo que o controlo de flutuabilidade se torna irrelevante para evitar o levantar de sedimento.
Portunhos1bJaneiro de 2010: Foi realizado um mergulho por Rui Pinheiro. Por questões de segurança, foi decidido aplicar a regra dos "quartos" em termos de gestão de ar, regra esta que será mantida nas explorações seguintes até se ter um conhecimento mais aprofundado da cavidade. Referir também a impossibilidade de mergulhar acompanhado devido às reduzidas dimensões da secção das galerias e do sedimento levantado após a zona do meandro. Aproveitando a circulação de água existente, que permite progredir com água limpa à frente do mergulhador, foram percorridos sensivelmente 30 metros, 20 dos quais em "première". Desde logo se constatou a dificuldade na progressão pelo caudal da água, tendo sido necessário aplicar práticas mais usuais na espeleologia a seco, como técnica de progressão em oposição. Outra característica desta cavidade é ter galerias tipicamente de conduta forçada com o chão coberto de argila, o que impossibilita a utilização de pontos naturais de amarração para o fio guia. Nos primeiros metros foi utilizado um tubo de captação de água para a agricultura, que se desenvolve até ao local onde é possível percorrer a cavidade a pé em ano de forte seca, para efectuar amarrações, mas após o terminus deste, não foi possível efectuar qualquer amarração. Neste primeiro mergulho de 2010, o mergulhador optou por não deixar fio guia instalado, precisamente por não haver pontos naturais de fixação. Este foi rebobinado, tendo o percurso de regresso sido efectuado em total ausência de visibilidade pela argila levantada na incursão.
Mergulhador: Rui Pinheiro
Apoio de terra: António Mendes; Marco Costa e Miguel Lopes.
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Fevereiro de 2010: O NEUA deslocou-se novamente ao Olho da Grota. Nesta incursão, fomos preparados para utilizar a técnica de colocação de pontos artificiais de amarração de fio guia posta em prática na exploração subaquática da Gruta da Contenda em 2009, através da utilização de malhas de chumbo de 1kg que seriam enterradas na argila, sendo a amarração feita com tiras de câmara de ar. A opção pela instalação de fio metrado irá permitir avaliar com rigor a progressão efectuada, bem como facilitar o levantamento topográfico da cavidade.
Foram realizados dois mergulhos, primeiro por Rui Pinheiro seguido por António Mendes, que facilmente avançaram através da zona inicial do meandro. Atingida a zona mais baixa da cavidade e ultrapassado o limite da anterior investida constatou-se que a galeria vai avançando aos "sss", sempre em conduta forçada com altura inferior a 1 metro, na direcção SE, rumo à Nascente de Ançã. Devido ao forte caudal sentido nesta zona, a progressão é feita com bastante esforço usando braços e pernas nas paredes e tecto da galeria. Foi usado um bloco de calcário existente para amarração com câmara de ar, que foi deslocado para o lado oposto da galeria para evitar roços, e utilizadas malhas de chumbo enterradas na argila. Atingidos os "quartos", foi deixado o carreto travado e poitado por uma malha de chumbo.
No segundo mergulho, efectuado por António Mendes, que atingiu o limite da exploração anterior e progrediu em linha recta até um ponto onde, devido à reduzida altura da galeria, foi impossível avançar. Foi de novo deixado carreto poitado a marcar o limite de exploração. Nesta segunda sequência de mergulhos,atingiram-se os 50 metros no interior do Olho da Grota.
Mergulhadores: António Mendes e Rui Pinheiro
Apoio de terra: Manuel Freire; Marco Costa e Rui Andrade
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Março de 2010: No dia 20 de Março, dia da comemoração do 30º aniversário do NEUA, foi realizada nova investida ao Olho da Grota, com objectivo de analisar e tentar ultrapassar a restrição onde a exploração anterior se deteve. Igualmente se verificaria o estado do fio guia, após cerca de um mês exposto numa nascente permanentemente em carga. No local de mergulho rapidamente se constatou o forte caudal, bastante superior ao da incursão realizada em Fevereiro. O mergulho foi realizado por Miguel Lopes que conseguiu penetrar na zona de secção mais reduzida pós meandro, mas viu-se impossibilitado de atingir o actual limite da exploração em virtude da excessiva força da água que impediu o avanço.
Mergulhador: Miguel Lopes
Apoio de terra: Manuel Freire; Patrícia Lima; Rui Andrade e Rui Pinheiro.
Apoio moral: Ana Sofia Reboleira, Inês Freire; Tomás Freire e Sónia Vasconcelos.
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Abril de 2010: Com o intuito de efectuar o levantamento topográfico da zona explorada e efectuar um registo fotográfico subaquático, o NEUA regressou ao Olho da Grota.
Aproveitando a ausência de pluviosidade dos últimos 15 dias, rapidamente se constatou a diminuição do caudal, proporcionando condições mais favoráveis à incursão.
De início entrou Rui Pinheiro, que topografou até à penúltima amarração, momento em que constatou a quebra do fio guia antes da última amarração, precisamente no carreto deixado a marcar o ponto mais avançado da exploração. Foi refeita a amarração até à penúltima equipagem e retirado o fio solto.
Entrou António Mendes, que efectuou o registo fotográfico, refez uma amarração para evitar um roço na zona do meandro e colocou fio novo da penúltima amarração até ao ponto extremo onde se encontrava o carreto, tendo usado uma malha de chumbo para efectuar uma amarração intermédia de forma a evitar o roço que havia provocado a quebra do fio. Neste ponto tentou de novo avançar, mas a reduzida altura da galeria voltou a impedir o avanço.
De salientar o extremo cuidado que se tem tido com o estado e preservação do fio guia, devido ao regresso ser efectuado em visibilidade zero, obrigando o mergulhador a depositar total confiança no estado do fio.
Mais tarde constatou-se o parcial insucesso do registo fotográfico, devido a um problema técnico.
Mergulhadores: António Mendes; Rui Pinheiro
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Maio de 2010: No dia da mãe, o NEUA voltou ao Olho da Grota com a finalidade de continuar o registo fotográfico e efectuar uma nova tentativa para ultrapassar a restrição que marca o actual limite da exploração.
O primeiro mergulho foi efectuado por António Mendes, que fotografou e filmou diversos pormenores da galeria até ao limite da exploração.
O segundo mergulho foi realizado por Rui Pinheiro, que efectuou novas correcções na equipagem e tentou pela primeira vez ultrapassar a restrição (visível na foto acima) pela utilização da configuração mais "slim" normalmente utilizada nesta galeria: Bi 7Lts/300bar. Após várias tentativas em ultrapassar a restrição, de novo "venceu" o Olho da Grota.
Em futuras incursões será necessário recorrer ao sidemount, de modo a continuar a exploração.
Mergulhadores: António Mendes; Rui Pinheiro.
Apoio de terra: Rui Andrade.
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Maio de 2010: Dia 9 de Maio. Nova incursão ao Olho da Grota com dois objectivos distintos: ultrapassar a restrição e completar a topografia da cavidade até ao limite actual da exploração. O plano inicialmente delineado consistia em entrar um mergulhador com uma garrafa S040, que seria deixada na penúltima amarração. Seguidamente entraria o segundo mergulhador com configuração sidemount e uma garrafa S080 que usaria para respirar até à restrição. A S080 seria libertada junto à S040, levando o mergulhador esta como garrafa backup para prosseguir a exploração. No fim entraria o terceiro mergulhador, que topografaria até à restrição e regressaria com a S080.
O primeiro mergulho foi realizado por António Mendes, que decidiu não deixar a S040 na penúltima amarração, em virtude do forte caudal encontrado, certamente motivado pela forte pluviosidade verificada nos dois últimos dias.
O segundo mergulho foi efectuado por Miguel Lopes, com o objectivo de avaliar as condições e verificar a possibilidade de avançar com a configuração sidemount mais hidrodinâmica. Usou a S080 até à restrição onde a largou, conseguindo vencer a força da água e tracionar-se através da restrição. Progredindo para além desta, atravessou uma pequena sala. Um pouco mais à frente a galeria vira à direita na direcção oeste, onde se nos depara uma restrição idêntica à primeira. Depois desta a conduta alarga um pouco, descendo na fase inicial e voltando a subir ligeiramente. A pedra rolada e a argila são uma constante, mesmo para além da segunda restrição, continuando a galeria ao estilo conduta forçada. Paredes de calcário lisas e muito bonitas. O reverso da medalha é a inexistência quase total de pontos de amarração, o que obriga ao transporte de malhas de chumbo para fixar fraccionamentos. Foi decidido não continuar a exploração devido à excessiva força da água e ao mergulhador se encontrar desprovido de malhas de chumbo para fazer amarrações, tendo sido deixado um carreto coberto com pedras para evitar o seu deslocamento.
Mergulhadores: António Mendes; Miguel Lopes
Apoio de terra: Rui Pinheiro
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Maio de 2010: Dia 22 de Maio. Aproveitando 15 dias sem pluviosidade, na esperança de encontrar a cavidade com menos caudal, o NEUA regressou ao Olho da Grota. Objectivos os mesmos da incursão de 9 de Maio passado, tendo sido delineado um plano idêntico.
Primeiro mergulho realizado por António Mendes, que filmou e fotografou, desta vez com iluminação mais potente. Neste primeiro mergulho deixou também junto à penúltima amarração uma garrafa S040, que seria utilizada pelo mergulhador em sidemount responsável por efectuar a ponta. O segundo mergulho, também efectuado por António Mendes, visou a substituição das amarrações com malhas de chumbo por blocos de cimento hexagonal (menos dispendiosos...), permitindo transportar as malhas de chumbo existentes dentro da cavidade para a ponta da exploração, por forma a serem utilizadas pelo mergulhador em sidemount. Neste segundo mergulho, António Mendes escavou por baixo da primeira restrição, e conseguiu ultrapassá-la com configuração clássica. Chegado à segunda restrição, verificou que esta é mais estreita e de secção mais baixa.
O terceiro mergulho foi efectuado por Miguel Lopes em sidemount. Utilizou uma garrafa de 4lts/200bar até à primeira restrição, poupando assim as garrafas de 4lts/300bar. Esta foi aqui libertada, onde continuou com a S040 como garrafa de segurança extra até à segunda restrição. Neste ponto constatou a impossibilidade de avançar, mesmo em sidemount. A galeria é demasiado baixa. Em virtude do esforço despendido a cavar e à força da água na segunda restrição, entrou ligeiramente em hipercapnia, pelo que decidiu regressar e terminar o mergulho. Ficou a sensação que será possível avançar após remoção de pedra e argila debaixo desta restrição. No local da ponta permanece um carreto travado e poitado com malha de chumbo.
Para o quarto e último mergulho, entrou Rui Pinheiro para efectuar o levantamento topográfico desde a sétima amarração até à primeira restrição. Durante a topografia, verificou a existência de uma pequena bolsa de ar pressurizada antes da primeira restrição, certamente formada pelo ar expirado nos sucessivos mergulhos, e de duas galerias laterais, demasiado estreitas e colmatadas com argila para permitir a passagem. No regresso recuperou a garrafa de 4lts/200bar.
Mergulhadores: António Mendes; Miguel Lopes; Rui Pinheiro
Apoio de terra: Andreia Almeida; Rui Andrade
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Maio de 2010: Dia 29 de Maio. Nova investida ao Olho da Grota, com a manutenção das condições favoráveis verificadas na última incursão.
Mantendo-se o plano delineado, apenas com a alteração do primeiro mergulho realizado por António Mendes ter por objectivo cavar e abrir espaço na primeira e segunda restrições, desta vez com a utilização de uma pequena pá articulável.
O segundo mergulho foi efectuado por Nuno Sousa, que equipado com configuração sidemount, realizou o seu primeiro mergulho nesta cavidade. Chegado à segunda restrição, tentou ultrapassá-la, mas devido à força da água e à falta de tracção no chão da galeria não conseguiu progredir, tendo optado por se virar, e com o auxílio das mãos no tecto da galeria, conseguiu ultrapassar a segunda restrição. No local, e sem malhas de chumbo para efectuar amarrações, que haviam ficado antes desta segunda restrição, decidiu rebobinar carreto e deixá-lo entre a primeira e segunda restrição.
O terceiro mergulho foi realizado por Miguel Lopes, também com configuração sidemount. Iniciou o mergulho com uma garrafa S080, que usou até à primeira restrição, e uma S040 como garrafa backup. Tendo chegado à segunda restrição, tentou transpô-la também em posição invertida, mas o tipo de regulador utilizado não permitiu adoptar esta posição por muito tempo, por o segundo andar ter inundado parcialmente. Voltou então à posição normal, e com um esforço acrescido conseguiu passar a segunda restrição. Neste ponto colocou uma amarração com poita de cimento e progrediu numa galeria com fundo de argila e pedra rolada alóctone, com perfil ligeiramente descendente. De novo se deparou com outra restrição (a terceira...), mais baixa e estreita do que as anteriores ("f..., não acredito!!!" comentou para si). A terceira restrição, intransponível de momento, situa-se precisamente no vértice da galeria com perfil suave descendente, com a continuação a subir em rampa de argila. Após uma avaliação sumária, conclui-se que esta terceira restrição apresenta dificuldade superior para ser ultrapassada, face às duas precedentes, devido à sua reduzida secção e ao posicionamento ser na intersecção de uma galeria descendente com outra ascendente. Ficou neste ponto carreto travado e poitado com uma malha de chumbo, tendo-se no entanto constatado a insuficiência de 1kg de chumbo para manter o carreto no local, devido à força da água em galeria estreita. No regresso, e em total ausência de visibilidade, deparou-se com a existência de fio solto mas não partido na galeria, certamente motivado pela alteração do posicionamento de amarrações aquando da incursão. Foi necessário o recurso à técnica de progressão com tensão de fio solto, o que não evitou por duas ocasiões tivesse ficado preso neste.
O quarto mergulho foi efectuado por Rui Pinheiro, com objectivo de topografar até à segunda restrição e recolher a garrafa S080. Informado da situação de fio solto, encontrou as amarrações deslocadas a partir da amarração anterior à primeira restrição, pelo que foi necessário efectuar o seu reposicionamento até à segunda restrição, tendo no entanto o fio ficado solto entre a segunda e terceira restrições devido à impossibilidade em ultrapassar a segunda restrição com configuração clássica. Foi efectuado o levantamento topográfico até este ponto e recolhida a garrafa S080.
Mergulhadores: António Mendes; Miguel Lopes; Nuno Sousa (GES-Grupo de Exploração Subaquática); Rui Pinheiro
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Junho de 2010: Dia 3 de Junho. Nova serie de mergulhos no Olho da Grota, tendo como objectivo alargar a passagem da segunda restrição, tencionar o fio que havia ficado solto nas últimas amarrações aquando da anterior investida e efectuar o levantamento topográfico até à terceira restrição e actual limite da exploração. As condições de caudal encontradas eram idênticas às da anterior incursão.
Primeiro mergulho efectuado por António Mendes, que criou uma nova amarração com um bloco de calcário, por forma a eliminar o último roço existente até ao actual limite de exploração, e voltou a alargar a segunda restrição, permitindo que esta possa já ser ultrapassada com configuração clássica.
Segundo mergulho foi feito por Rui Pinheiro com configuração sidemount. Foram reposicionadas as duas últimas amarrações por forma a manter o fio tenso e realizado o levantamento topográfico da segunda até à terceira restrições. Foi possível verificar que a galeria após a terceira restrição sobe de forma acentuada, com o chão coberto por uma camada de argila que reveste pedra rolada alóctone de dimensão superior à anteriormente encontrada, precisamente por este ser um local preferencial para depósito de material transportado pelo fluxo da água em regime livre.
Apraz-nos registar a presença e o apoio prestado por Luiz Afonso Vaz de Figueiredo, Presidente da SBE-Sociedade Brasileira de Espeleologia. Obrigado Afonso!!!
Mergulhadores: António Mendes; Rui Pinheiro
Apoio de terra: Afonso de Figueiredo (SBE-Sociedade Brasileira de Espeleologia); Marco Costa
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Junho de 2010: Dia 19 de Junho. Após a forte pluviosidade verificada no dia 10 de Junho, vi-mo-nos forçados a aguardar 15 dias até nova investida no Olho da Grota. Objectivo desta incursão, cavar e alargar a segunda restrição por forma a passar com configuração clássica, e iniciar a desobstrução da terceira restrição.
O primeiro mergulho foi efectuado por António Mendes, que entrou com configuração clássica, e munido de uma enxada alargou a segunda restrição de forma a poder avançar confortavelmente. Após verificar que se consegue com segurança ultrapassar esta restrição com configuração clássica, chegou à terceira restrição. Neste ponto deixou a enxada e regressou à superfície.
Segundo mergulho realizado por Nuno Sousa com configuração sidemount, que chegado à terceira restrição começou a desobstrução desta. Verificou a existência na base da rampa ascendente que se inicia após a terceira restrição, que o solo está coberto por uma camada de argila com sensivelmente um palmo de espessura, e por baixo da argila pedra rolada alóctone de dimensões superiores à anteriormente encontrada.
O terceiro Mergulho realizado por Rui Pinheiro também em sidemount, cumpriu os mesmos objectivos, tendo sido retirada mais argila e pedra por baixo da terceira restrição. Esta restrição, de secção menor do que as anteriores, devido a encontrar-se na base de uma rampa ascendente, requer maiores cuidados antes de ser tentada a sua passagem, em virtude do perigo de derrocada após a passagem do mergulhador, dificultando assim o seu regresso. Permanece no terminus da exploração, carreto poitado e a enxada que está a ser usada na desobstrução desta restrição.
Mergulhadores: António Mendes; Nuno Sousa (GES-Grupo de Exploração Subaquática); Rui Pinheiro
Apoio de terra: Andreia Almeida; Marco Costa; Miguel Lopes
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Junho de 2010: Planta do Olho da Grota até à 3ª restrição.
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Julho de 2010: Dia 18 de Julho. Depois de um mês de ausência na exploração do Olho da Grota, em que o NEUA esteve ocupado com a programação da expedição "Angola Subterrânea", regressamos à exploração desta exsurgência. Objectivos para esta incursão, a passagem da 3ª restrição, depois da acção de desobstrução que havia sido iniciada na anterior investida.
O mergulho inicial foi efectuado por Pedro Ivo Arriegas com configuração sidemount, que efectuou o primeiro mergulho nesta cavidade. Chegado à 3ª restrição, que se encontra a 12mts de profundidade, verificou ser possível avançar sem necessidade de continuar a desobstrução desta restrição. No entanto, desprovido de malhas de chumbo para efectuar amarrações posteriores, suspendeu a progressão no ponto em a galeria mudava de direcção e seria necessário posicionar uma nova amarração.
O segundo mergulho realizado por Nuno Sousa em sidemount, que progrediu na galeria ascendente com inclinação de sensivelmente 30 graus. Esta caracteriza-se por ter uma secção que aparenta ter sido uma antiga galeria vadosa, que desemboca numa pequena sala a 6mts de profundidade, de onde se consegue visionar a partir do tecto um poço ascendente na vertical sem fim visível, a explorar futuramente. No prolongamento do poço vertical e seguindo o controlo estrutural da cavidade, continua um magnífico meandro a partir do tecto em conduta forçada e impenetrável. A continuação é por uma galeria com perfil ascendente à direita, a partir do chão da sala, que vai passar ao lado do extremo do meandro no tecto. Neste ponto, e tendo usado todas as malhas de chumbo para efectuar amarrações, deixou o carreto enterrado na argila.
O terceiro mergulho foi efectuado por Rui Pinheiro, também em sidemount. Durante a incursão recolheu duas malhas de chumbo que estavam posicionadas antes da 3ª restrição, e que foram usadas para minimizar alguns roços na equipagem subsequente. Chegado ao ponto limite da exploração, avançou desprovido de malhas de chumbo para efectuar amarrações. Progrediu continuando em galeria ascendente até atingir uma nova sala situada a 3mts de profundidade. Nesta sala, a continuação possível será por uma galeria descendente à esquerda, que se acede através de uma janela oval bastante baixa, sem possibilidade de desobstrução por a base ser em rocha mãe, mas que aparenta ser possível ultrapassar. O carreto que marca o limite da exploração foi deixado neste ponto travado, tendo-se constatado que a argila que cobre o fundo nesta sala é de uma consistência bastante superior à argila que tem sido encontrada ao longo da cavidade.
Fruto da ausência de restrições, este foi o dia mais produtivo no avanço da exploração do Olho da Grota. A partir da 3ª restrição encontra-se, sem dúvida, a zona mais bonita e interessante da cavidade!!!
Em próxima incursão, o objectivo passará primeiro por corrigir os roços existentes após a 3ª restrição, que por ausência de equipamento artificial de amarração não foram totalmente evitados, tentando-se só depois ultrapassar a 4ª restrição e continuar o levantamento topográfico da cavidade.
Mergulhadores: Nuno Sousa (GES-Grupo de Exploração Subaquática; Pedro Ivo Arriegas (GES-Grupo de Exploração Subaquática); Rui Pinheiro
Apoio de terra: Andreia Almeida; António Mendes; Miguel Lopes
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Julho de 2010: Dia 25 de Julho. O Olho da Grota tem nesta época do ano um nível freático muito reduzido, pelo que é de prever que muito em breve a nascente cesse a sua actividade. Depois de no passado dia 18 termos conseguido ultrapassar a 3ª restrição e avançado até uma sala situada a 3mts de profundidade, impunha-se a correcção e reposicionamento das amarrações subsequentes através da utilização de poitas de cimento para criar pontos de fixação de fio artificiais.
O primeiro mergulho efectuado por Rui Pinheiro cumpriu este objectivo. Foram substituídas malhas de chumbo por poitas de cimento, e aproveitadas algumas malhas de chumbo para efectuar amarrações intercalares entre poitas de cimento, por forma a evitar ao máximo pontos de contacto do fio guia com a parede da galeria. Foi descoberta uma possível continuação a partir da lateral de uma sala situada aos 9mts. Ao chegar à sala a 6mts de profundidade, deixou a última malha de chumbo e na conduta que dá acesso à sala a 3mts de profundidade, deparou-se com fio solto por o carreto ter descido pela galeria. Sem mais amarrações artificiais, optou por subir a rampa e reposicionar o carreto. Esta galeria apresenta uma inclinação superior a 30 graus, com o chão coberto por argila muito consistente, o que dificulta a fixação de amarrações artificiais. A diferença na consistência na argila, poder-se-á explicar por as galerias acima dos 7mts de profundidade se encontrarem na zona epifreática da cavidade, ficando a seco em anos de reduzida pluviosidade.
Segundo mergulho por António Mendes, teve como objectivo equipar a sala a 6mts com poita de cimento e avançar. Equipada a sala, avançou para o extremo da galeria ascendente, mas neste trajecto teve um contratempo ao deixar cair uma malha de chumbo trazida da amarração anterior, tendo esta caído pela galeria até à sala aos 6mts. Foi obrigado a recuar até esta para a recuperar. De novo avançou e no topo da sala posicionou uma poita de cimento na base da sala e outra no topo da janela que dá acesso à zona por explorar. Avançou por esta nova galeria e chegou a um ponto onde a continuação é por um poço vertical a partir do tecto. Neste ponto, e tendo anteriormente gasto todas as amarrações artificiais, foi obrigado a regressar de costas até à sala a 3mts, por impossibilidade em inverter o sentido. No regresso deparou-se com fio solto, tendo ainda nele ficado preso por uma vez, certamente por ter deslocado alguma amarração na incursão. Em total ausência de visibilidade, optou por dar um nó no fio para o manter em tensão, devendo esta situação ser corrigida futuramente. Em cavidades onde a ausência de amarrações naturais é uma constante, a dificuldade em criar pontos estáveis de amarração é extraordinariamente elevada. Se a isto aliarmos corrente, restrições, inexistência quase total de bons pontos para o mergulhador se traccionar, uma vez que nadar não é, em muitos pontos e situações uma opção, e visibilidade nula ou quase nula no regresso, facilmente se criam situações como problemas de fio por deslocação de amarrações. Em alguns pontos um toque é quanto basta para deslocar um fraccionamento.
Após esta actividade, existem de momento três possíveis continuações no desenvolvimento do Olho da Grota, todas elas com perfil basicamente vertical: uma galeria hoje descoberta que aparenta subir, a que se acede pela lateral de uma sala situada aos 9mts, o poço vertical a partir do tecto da sala aos 6mts e o novo poço hoje descoberto aos 3mts.
No actual limite da exploração, consegue-se perceber que a proveniência da água é difusa após a passagem da 3ª restrição aos 12mts de profundidade, através de condutas de perfil vertical ou subvertical, na sua maioria intransponíveis, não tendo ainda sido possível identificar a de maior fluxo, embora aparentando ser a que estamos a seguir a maior caudal.
Mergulhadores: António Mendes; Rui Pinheiro
Apoio de terra: Andreia Almeida; Miguel Lopes
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Setembro de 2010: Dia 7 de Setembro. Deslocação ao Olho da Grota para verificar in loco o nível da água e enquadramento geológico da nascente na Carta Geológica de Portugal.

Algumas considerações sobre nascentes na ribeira de Ançã entre Portunhos e Ançã

As nascentes de Portunhos (Olho da Grota, Olho da Baiuca, Nascente do Moinho Velho) e a Nascente de Ançã situam-se na margem Oeste da ribeira de Ançã para a qual lançam as suas águas. Julgamos que estas nascentes podem ser consideradas surgências cársicas segundo a definição de Rodrigues et all. 2007. As surgências distribuem-se de montante para jusante, pela ordem atrás definida, e situam-se respectivamente perto das cotas 50 e entre os 30-35m, segundo estimativa feita a partir da Folha 229 da Carta Militar de Portugal Continental.

De acordo com C.Thomas, 1985, a nascente de Portunhos é permanente, apesar de ter um caudal muito variável.

As nascentes de Portunhos e Ançã assentam sobre a formação dos Calcários de Ançã datados do Batoniano/Bajociano (Jurássico Médio). As nascentes de Portunhos encontram-se num afloramento de calcário e a Nascente de Ançã é também ela uma gruta desenvolvida em calcário, apesar da Folha 19 – A da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000 a localizar em aluviões. Porém, dada a localização das nascentes junto a uma linha de água, não é de estranhar que as aluviões possam cobrir algumas nascentes, (conhecidas ou por descobrir) suportadas pela formação de Calcários de Ançã.

Do ponto de vista estrutural, as nascentes situam-se no flanco Este de uma dobra sinforma sinclinal. O flanco Este tem, segundo a Carta Geológica acima referida, atitude aproximadamente N-S/10W. Este valor foi confirmado por medições de campo, junto à nascente Olho da Grota.

Estas nascentes poderão estar relacionadas entre si e drenarão provavelmente o mesmo aquífero, como é sugerido pela sua relativa proximidade (a distância entre ambas é de cerca de 3km). O facto de se terem desenvolvido na mesma formação (com as ressalvas acima referidas) e no mesmo flanco da dobra, a diferença de cotas entre as nascentes e a observação, aquando da visita ao local (Setembro de 2010), de que a nascente Olho da Grota (mais alta), apresentava um caudal muito fraco, enquanto que a Surgência de Ançã (mais baixa) apresentava ainda um caudal que se pode considerar forte, ajudam a validar esta possibilidade.

  • C.Thomas, (1985) Grottes e Algares du Portugal, Comunicar Lda. Lisboa
    • Barbosa, P.B., Soares, A.F. Manupella, G., Rocha,R.B Henriques, M.H, (1988). Carta Geológica de Portugal - Vila Nova de Ourém, Folha 19-A Cantanhede à escala 1:50000, e Nota Explicativa, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

  • Folha 229 da Carta Militar de Portugal à escala 1/25000, 1981, Instituo Geográfico do Exército, Lisboa
  • Rodrigues, M.L., Cunha, L., Ramos, C., Pereira, A.R., Teles, V., Dimuccio, L. (2007) “Glossário Ilustrado de Termos Cársicos
Participantes: António Mendes; Marco Costa; Paulo Rodrigues (AES-Associação de Espeleólogos de Sintra); Rui Andrade; Rui Pinheiro
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Setembro de 2010: Dia 12 de Setembro. Com a nascente do Olho da Grota inactiva, realizámos um mergulho com o propósito de verificar o nível da água na zona dos poços, que marcam o actual limite da exploração. Igualmente se verificaria a possibilidade de efectuar mais do que um mergulho/dia, pela monitorização do tempo de deposição do sedimento levantado pelo primeiro mergulhador.
Primeiro mergulho efectuado por Rui Pinheiro, que percorreu a galeria até ao ponto mais avançado. Na incursão posicionou uma nova poita de cimento para corrigir um roço, provocado pela deslocação entretanto verificada em algumas amarrações. Junto ao carreto no extremo da exploração constatou-se a profundidade de 2,5mts, o que comprova a diminuição em 0,5mts do nível de água na nascente, que se repete na zona dos poços.
Em futura actividade nesta nascente, será necessário colocar um protetor de fio guia, num ponto em que não se conseguem posicionar amarrações de modo a evitar um roço existente.
Devido à ausência de fluxo de água e ao sedimento levantado, foi decidido não tentar avançar na exploração pela ausência de vizibilidade.
O tempo de depósito do sedimento levantado pelo primeiro mergulhador ultrapassou as 4 horas, o que desde já inviabiliza um segunto mergulho/dia.
Mergulhador: Rui Pinheiro
Apoio de terra: António Mendes
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Novembro de 2010: Representação no Google Earth do Olho da Grota e da Gruta d'El Rey
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Topografia da Gruta d'El Rey baseada na versão original de Manuel Soares, Francisco Veiga e João Pupo; CIES, Dezembro 1979. Publicada na Espeleo Divulgação nº 2.
Levantamento digital por Davide Moreira e Manuel Freire; NEUA, Outubro 2008.
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Dezembro de 2010: Num dia 4 de Dezembro muito frio, e na sequência de 15 dias de alguma pluviosidade, regressámos ao Olho da Grota na esperança de encontrar a nascente em actividade e prosseguir com a topografia e exploração. Tal não se verificou, estando o nível da água uns escassos 20cms abaixo do ponto em que começa a correr. Mesmo assim, tentámos um mergulho por António Mendes, que entrou e percorreu a galeria inicial até um ponto onde a progresão foi barrada por uma cortina de raízes provenientes da superfície. Ao tentar ultrapassar este obstáculo, rapidamente se viu em total ausência de vizibilidade, tendo abortado o mergulho por questões de segurança.
Mergulhador: António Mendes
Apoio de terra: Andreia Almeida; Miguel Lopes; Rui Pinheiro
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Fotografias de: Andreia Almeida; António Mendes; Manuel Soares; Marco Costa; Miguel Lopes; Rita Lemos; Rui Pinheiro.